E-crítica

Críticas e essays para assuntos diversos

Paris, a Cidade Trevas

por Igor.

Carros incendiados, crianças eletrocutadas e policiais alvejados, parece muito com o cenário dos países do chamado terceiro mundo mas não, desta vez o lugar não é Jacarta, Bogotá ou Rio de Janeiro mas Paris, a Cidade Luz, outrora capital dos ideais burgueses republicanos democráticos hoje enfrenta madrugadas de medo e caos.
O descontrole nas ruas de Paris e a histeria coletiva não começaram há 13 dias como os jornais noticiam. O motim anunciado tem origens bem mais profundas e antigas do que a morte dos dois meninos, na verdade, a França apesar de ser considerada o cerne dos ideais igualitários falhou. Falhou na absorção de seus próprios filhos bastardos, a herança do neo-colonialismo; falhou ao segregar de forma velada e considerar "estrangeiros" aqueles que tem no sobrenome as raízes africanas ou asiáticas mas que tem na certidão a nacionalidade francesa. E hoje a sociedade francesa sofre as consequências do falido modelo de bem-estar social, que não conseguiu proporcionar a todos os seus filhos as mesmas oportunidades.
Para evitar o agravamento da crise medidas estruturais de longo prazo precisam ser tomadas. E claro que de imediato o estado de normalidade deve ser reestabelecido mesmo que pelo meio do rígido controle social, mas que não se iludam os franceses que o estado de sítio e toque de recolher solucionarão o problema. A solucão está na geração de empregos para esta juventude muçulmana e a melhoria e o aparelhamento dos subúrbios da capital, senão, esta terá sido somente a primeira de muitas ondas de incendio e disturbios por lá.
Outra resposta ainda mais equivocada a situação seria o endurecimento da política externa francesa aos moldes dos falcões de Washington ou até mesmo uma vitória da ultra-direita de Le Pen, que já passou de uma direita ridicularizada em meados dos anos 90 para uma direita robusta que chegou ao segundo turno das últimas eleições, ressucitando o velho fantasma europeu da xenofobia; mas que os franceses se lembrem do exemplo alemão da segunda grande guerra para que não cometam o mesmo erro.
Os franceses dizem reviver agora os tempos da rvolução de 68, muito embora, os dois momentos sejam distintos na origem. Em 68, eram jovens franceses intelectualizados que batalhavam por uma revolução comportamental no ingresso ao novo e libertário mundo ocidental, enquanto hoje, são jovens imigrantes desempregados que buscam uma revolução de fato social, com a igualdade plena de oportunidades muito mais parecido com a revolução americana na década de 60 que buscava igualdade racial no direito civil americano. Algumas análises como a do jornal Washington Post dizem que a França ainda não vivera uma revolução social de fato e que esta estaria em curso agora com os motins em Paris.
Talvez os americanos estejam certos. Com o tempo o quadro se desenhara mais claramente, mas desde já, o que é certo é que muito além de carros incendiados e vandalismo como Sarkozy equivocadamente interpretou, as chamas evidenciam o grito silencioso das minorias em busca da máxima do existencialismo francês: igualdade, liberdade e fraternidade.

postado por Igor @ 5:55 PM, ,

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Igor e Rafael
Somos o Igor e Rafael Do Rio de Janeiro, RJ, Brazil

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